quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O mundos está de olho nos ganhos de produtividade

demanda mundial por alimentos  continuará aquecida nos próximos anos e a expectativa é a de que o Brasil se mantenha em posição de destaque nas exportações de produtos do agronegócio. Para tanto, o setor nacional precisa investir para se manter alinhado à evolução tecnológica dos sistemas de produção. 

Na pecuária de corte brasileira, há notadamente dois fatores que acentuam a necessidade de ganhos de produtividade: a concorrência por terra com outras culturas e, concomitantemente, as restrições ambientais, que limitam as áreas agricultáveis. Manter-se como player importante no mercado mundial de carnes e ainda ofertar a preços competitivos são desafios da pauta do dia. 

Durante a 11ª Conferência de Ovinos e Bovinos do Agri benchmark, rede global de economistas e especialistas em setores-chave da agropecuária mundial, realizada em junho, em York, na Inglaterra, o avanço da produtividade voltou a ocupar o foco das discussões. Sem fins lucrativos e sem cunho político, a rede analisa a rentabilidade da produção agropecuária em diversos países. 

As pecuárias bovina de corte e suína, bem como a soja, o milho, o girassol e o trigo do Brasil são representados nesses comparativos por dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No caso da pecuária bovina de corte, a participação se estende desde 2006.

O que se mostrou nessa conferência é que o preço mundial da carne bovina, mesmo com algumas reduções, continua relativamente alto. De 2000 a 2012, os aumentos mais significativos ocorreram nos países em desenvolvimento. A China registrou a maior variação, acima de 400%. 

No Brasil, Argentina, Indonésia e África do Sul, a elevação foi ao redor de 150%. As menores variações ocorreram nos países desenvolvidos. No período, Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França e Inglaterra tiveram aumentos não superiores a 100%. 

Se a demanda aquecida fosse o único propulsor dos reajustes dos preços, o pecuarista brasileiro poderia comemorar. No entanto, o aumento dos custos de produção também tem papel importante. De 2005 a 2012, ele variou de 10% a 20% em países europeus, como Alemanha, Itália e Reino Unido, entre outros; 30% e 50%,respectivamente, na Austrália e nos Estados Unidos; e nada menos do que 100% no Brasil e na Argentina.

Apesar dessas oscilações, o custo de produção brasileiro ainda é muito competitivo. Em 2012, representou 35% do que um pecuarista chinês precisou para produzir 100 kg de carcaça; 50% do que um europeu precisou e 75% do que um norte-americano. 

Apesar da vantagem ainda ser considerável, o pecuarista brasileiro tem de ficar alerta ao dinamismo do comércio mundial. Os dados do Agri benchmark indicam que, nos últimos anos, a diferença entre os maiores e os menores custos de produção entre países tem diminuído. 

Se esse cenário se mantiver, países com preços competitivos internacionalmente podem, 
em médio ou longo prazos, perder sua posição. A boa notícia é que os países atualmente com custos elevados já alcançaram altos índices de produtividade. Já as nações do Hemisfério Sul, destacadamente o Brasil e seus vizinhos, apresentam forte potencial de aumento produtivo. A Austrália, com índices de produtividade já elevados, é a grande exceção. 




No Brasil, o ganho de produtividade pode ocorrer em todos os sistemas de produção. Apenas para ficar num exemplo, o da cria, tome-se como parâmetro os dados do gráfico acima, com dois importantes indicadores de produtividade, em diferentes países, taxa de natalidade e de desmama. Percebe-se que o Brasil tem muito a melhorar para se aproximar dos países com melhores índices de produtividade. E, no contexto atual, produzir mais com menos não é mais uma escolha.

Fonte: Sergio De Zen1 e Mariane Crespolini dos Santos2
(1) Professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea/Esalq/USP; (2) Analista de Mercado do Cepea/Esalq/USP.
* Artigo extraído do site do CEPEA e publicado originalmente na Revista DBO de Agosto de 2013.

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