quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Agregar ou não?

Artigo : Agregar ou não?
por * Francisco Woolf

Segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), entre 2004 e 2010, 32 milhões de pessoas ascenderam à categoria de classe média e 19,3 milhões saíram da pobreza. O poder de compra da população melhorou e com isto a procura por produtos de maior valor agregado, sejam eles alimentos, vestuários ou eletrônicos. No mercado de proteínas animais, mais precisamente no de carne bovina, isto não foi diferente.

Carne bovina com marca

A busca por cortes diferenciados, especiais e tipo premium, aumentou nos últimos anos.
E para o pecuarista, em certos casos, é rentável a produção de carnes com alto valor agregado, em detrimento do tradicional sistema de produção de commodity.

Há um crescimento de marcas de carne, com cortes diferenciados, acabamento aprimorado e marmoreio. Se antes o sinônimo de carne macia, com sabor e acabamento superiores era a carne uruguaia ou argentina, atualmente o Brasil produz em nível semelhante ao dos nossos vizinhos. A produção é estimulada pela própria população, que busca novos cortes e produtos com um padrão elevado de qualidade.

Nichos de mercado de qualidade no atacado

Frigoríficos, que exportavam a carne de melhor qualidade, criaram marcas especiais para esse nicho de mercado. A JBS, por exemplo, criou a marca Swift Black, sendo toda a sua cadeia produtiva diferenciada. Os bovinos, de raças britânicas, são adquiridos no Rio Grande do Sul, rastreados e abatidos jovens. Os cortes são exclusivos e fornecidos a restaurantes especializados em carnes nobres.

Outra marca é a Bassi Gourmet, do Marfrig, linha de carnes de luxo produzida artesanalmente. O Marfrig possui um programa de bonificação, em parceria com a Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), cujos participantes são premiados em até 4% sobre o valor de mercado por fornecerem essa carne de melhor qualidade.

Associações de raça no Brasil, em parceria com a indústria frigorífica, também adotam programas de bonificação ao pecuarista por qualidade de carcaça. A Associação Brasileira de Angus, juntamente com o Marfrig, certificam a qualidade da carne proveniente da raça Angus e suas cruzas. Existem dois modelos de padrão racial neste programa, o do Rio Grande do Sul, mais rigoroso, e o do Sudeste e Centro-Oeste. A avaliação dos animais é feita nos currais e na linha de abate, onde são avaliados quesitos como pelagem, conformação da cabeça e da carcaça, idade e grau de acabamento, sendo que é conferido um carimbo àqueles animais que forem aprovados na avaliação final. A embalagem é feita a vácuo e recebe uma etiqueta diferenciada, com o selo de certificação.

Além disso, pequenos açougues começam a segregar qualitativamente suas carnes, ainda que em pequena escala. Pecuaristas estão montando parcerias, com o objetivo de produzir carnes com padrão especial.

Um exemplo é a marca Maria Macia. Criada por um grupo de pecuaristas paranaenses, a carne é obtida de novilhos precoces abatidos semanalmente, com menos de dois anos e não é congelada nem embalada a vácuo, ficando assim sempre fresca.

Nichos de mercado de qualidade no varejo

O varejo, sob a forma de empórios especializados ou gôndolas especiais em grandes supermercados, se organiza de forma a atender a exigência destes consumidores. A exemplo do que vem acontecendo no ramo de cervejas premium, a quantidade de estabelecimentos especializados em vendas de carnes diferenciadas têm crescido. A casa de carnes Celeiro, em Rondonópolis - MT, se destaca por produzir seus próprios cortes de carnes de bovinos e ovinos.

Carne bovina de qualidade no mundo

Exemplos de sucesso no mundo todo não faltam. Os Estados Unidos possuem desde 1978 a marca de carne Certified Angus Beef, exclusiva da raça Angus. Foi criada com o intuito de fornecer garantias de qualidade de carne e sabor aos consumidores. A associação, com 30 mil membros, produz 2,2 milhões de quilos diários de carne, suprindo 14 mil restaurantes e supermercados nos EUA e mais 45 países. As carnes são inspecionadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e são classificadas por um sistema de notas em Prime, Choice ou Select, de acordo com sua consistência, qualidade e marmoreio.

A Austrália também possui um programa de qualidade de carne, o Meat Standards Australia (MSA). O programa busca a qualidade de cortes de carne com padrão em suculência, sabor e aparência. O programa foi testado por 86 mil consumidores de carne, que provaram em torno de 603 mil e 86 mil amostras de carne bovina e ovina, respectivamente. Estes testes visaram identificar os principais fatores que proporcionaram impacto na qualidade da carne. No programa, as carcaças são avaliadas em graus de qualidade para cada corte.

A parrilla e o asado argentino e uruguaio também são exemplos de sucesso. As carnes destes países são reconhecidas mundialmente.

Final

A produção de carne com valor agregado pode ser a saída para melhorar a margem da atividade. Se o grande produtor ganha em volume, o pequeno pode ganhar em qualidade. E nada impede que os grandes também invistam em qualidade.

O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal do planeta . Essas iniciativas certamente levarão a pecuária brasileira também à condição de produtora de carne com qualidade diferenciada, suprindo, além das necessidades originadas com o crescimento da população , no combate à fome e na melhoria da dieta, os requintes de qualidade exigidos por restaurantes, churrascarias e apreciadores de carnes com cortes fora do catálogo.



* Francisco Woolf é Engenheiro agrônomo formado pela UNESP - Jaboticabal, analista júnior da Scot Consultoria e membro da equipe de marketing e vendas.

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